Certo dia, uma mulher chamada Anne foi renovar a sua carteira de motorista.
Quando lhe perguntaram qual era a sua profissão, ela hesitou.
Não sabia bem como se classificar.
O funcionário insistiu: "o que eu pergunto é se tem um trabalho."
"Claro que tenho um trabalho", exclamou Anne. "Sou mãe."
"Nós não consideramos isso um trabalho.
Vou colocar dona de casa", disse o funcionário friamente.
Em outra ocasião, ela se encontrou numa situação idêntica.
A pessoa que a atendeu era uma funcionária de carreira, segura, eficiente.
O formulário parecia enorme, interminável.
A primeira pergunta foi: "qual é a sua ocupação?"
Anne pensou um pouco e sem saber bem como, respondeu:
"Sou doutora em desenvolvimento infantil e em relações humanas."
A funcionária fez uma pausa e Anne precisou repetir pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas.
Depois de ter anotado tudo, a jovem ousou indagar;
"Posso perguntar, o que é que a senhora faz exatamente?"
Sem qualquer traço de agitação na voz, com muita calma, ela explicou:
"Desenvolvo um programa à longo prazo, dentro e fora de casa."
Pensando na sua família, ela continuou:
"Sou responsável por uma equipe e já recebi quatro projetos, trabalho em regime de dedicação exclusiva, o grau de exigência é de 14 horas por dia, às vezes até 24 horas."
À medida que ia descrevendo suas responsabilidades, notou o crescente tom de respeito na voz da funcionária, que preencheu todo o formulário com os dados fornecidos.
Quando voltou para casa, Anne foi recebida por sua equipe: uma menina com 13 anos, outra com 7 e outra com 3.
Subindo ao andar de cima da casa, ela pôde ouvir o seu mais novo projeto, um bebê de seis meses, testando uma nova tonalidade de voz.
Feliz, ela tomou o bebê nos braços e pensou na glória da maternidade, com suas multiplicadas responsabilidades.
E horas intermináveis de dedicação.
"Mãe, onde está meu sapato?
Mãe, me ajuda a fazer a lição?
Mãe, o bebê não pára de chorar.
Mãe, você me busca na escola?
Mãe, você vai assistir a minha dança?
Mãe, você compra?
Mãe..."
Sentada na cama, pensou:
"se ela era doutora em desenvolvimento infantil e em relações humanas, o que seriam as avós?"
E logo descobriu um título para elas: doutoras-sênior em desenvolvimento infantil e em relações humanas.
As bisavós, doutoras executivas sênior.
As tias, doutoras-assistentes.
E todas as mulheres, mães, esposas, amigas e companheiras: doutoras na arte de fazer a vida melhor.
No mundo em que os títulos são importantes, em que se exige sempre maior especialização, na área profissional, torne-se especialista na arte de amar.
Como excelente mestra, ensine seus filhos, através do seu exemplo, a insuperável arte de expressar sentimentos.
Ensine a difícil arte de interpretação de choro de bebê e de secar lágrimas de adolescente.
Exemplifique a renúncia, a paciência e a diplomacia.
E colha, vitoriosa, ao final de cada dia, os louros do seu esforço nos abraços dos seus filhos e na espontaneidade de suas manifestações de afeto.
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