Bem no fundo de um lago nadava um peixinho entre as algas.
Frequentemente se demorava muito num mesmo lugar, e abanava vagarosamente suas barbatanas.
Bem próximo a ele arrastava-se lentamente uma concha sobre o chão arenoso.
Através da turva luz parecia ser uma pedra que ali estava.
O peixinho agitou sua cauda , observou a dura concha por todos os lados, e não compreendia como uma pedra podia passear pois não havia percebido ainda os pequenos pezinhos na parte de baixo da concha, onde se distinguia uma aberturazinha.
E assim a concha continuava se arrastando...
De repente o peixinho percebeu uma pequena fresta, e nadando para lá, procurou enxergar lá dentro.
Mas...a abertura fechou-se !
-"Ah ! - pensou o peixinho - lá dentro mora alguém que certamente tem medo de mim !
Vou chamá-lo !"
Nadou em torno de toda a concha e disse :
" Ei ! você aí de dentro...saia ! Eu não te mordo , não !"
A concha murmurou bem baixinho : " Por que dev sair ?
Aqui me agrada muito mais ...!"
-"Saia assim mesmo ! Eu desejo olhar a tua bela nadadeira !"
-"Eu não tenho nenhuma nadadeira ...!" murmurou a concha.
Mas o peixinho não dava sossego, tinha uma vontade enorme de descerrar a concha.
Então falou : -"Saia para fora você poderá se alegrar com minhas escamas cintilantes...!"
-" Eu nem siquer tenho olhos...", respondeu a concha.
Irritado o peixinho nadou em volta dela e falou :
-" No quê devo acreditar ? Você não tem cauda, nem escamas,nem olhos...Tem apenas ambas as cascas cheias de pele ?"
-" Eu, tenho o sonho aquático...''falou baixino a concha.
''E este não troco nem por suas escamas , e nem pela sua cauda...!"
-"Oh! Então conte-me ", pediu o peixinho.
A concha disse: -" Contar eu não posso. Cada dia eu pinto o sonho nas paredes da minha casca. Por isto eu quero lhe mostrar algo...mas depois, deixe-me em paz !"
Cuidadosamente a concha abriu a sua fresta e o peixinho viu em seu interior estranhas cores brilharem : vermelho, azul, verde, violeta...era um oculto brilho cintilante.
-"Oh...! É como o arco-íris nas cachoeiras...!" disse ele.
Mas a concha fechou-se novamente tão silenciosamente quanto abriu...
Em seguida ela deitou-se bem a seu lado e lá permaneceu sem se movimentar.
O peixinho, bem próximo, sentia como entrava e saia água da concha..."o sonho aquático !"...
Ainda por algum tempo ele ficou perto da concha, que externamente parecia arenosa e cinzenta, mas que interiormente escondia o mais belo milagre que já se viu.
( Jacob Streit - Coletânea Waldorf)
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