21 outubro, 2008
Dor Arquivada ...
Sou organizada, arquivo minhas dores.
Já arquivei muitas.
Vez por outra, desarquivo uma...
Algumas permanecem arquivadas exclusivamente porque já foram dores,
e dores são dores, tenho-lhes o devido respeito.
Tenho algumas que nem toco, pois tenho pavor de estragá-las.
Deixo-as como estavam no dia do arquivamento, intactas...
Tenho muitas dores arruaceiras, escandalosas,
dessas que a gente morre de vergonha quando aparecem.
Mas é evidente que tenho outras, completamente diferentes, caladas.
Dessas não gosto ...
Algumas são delicadíssimas, a dor do primeiro amor desfeito, é um bom exemplo.
Tenho uma dor bem interessante, eu diria até que, inusitada, uma dor desafinada.
Ora, porque da surpresa?
Paixão solitária dá nisso, impossível harmonizar...
Sem qualquer constrangimento, confesso: tenho uma dor...
Isso mesmo...
E quem não tem pelo menos uma?
A minha dor de cotovelo está na terceira gaveta,
já esteve mais acessível mas ainda está lá,
É bem grande esse meu arquivo...
Tenho até dor em ordem alfabética...
É um arquivo, organizado.
Quer dizer, mais ou menos...
É, eu tenho uma dor instável...
Já tentei fazê-la desaparecer, mas é voluntariosa, tem vida própria.
Uma vez rasguei-a em pedacinhos, adiantou???
Não...
Mal abri a primeira gaveta, lá estava ela, multiplicada...
Arquiva-se e desarquiva-se, como e quando quer e, mais,mistura-se com as outras.
Apareceu de tanto eu abrir e fechar a gaveta.
Difícil lidar com ela.
Desisti...
O Nome dessa dor é "Saudade..."
Resolvi fazer dela uma amiga...
Essa dor...
vai comigo sempre morar....
(Sandra Falconi)
Nenhum comentário:
Postar um comentário